sexta-feira, 12 de março de 2010

O post inédito de dois poemas

1)

Casei-me

Vida pungente é vida vivida
As lágrimas choradas
As garrafas derramadas
São mais verdadeiras do que muita gente por aí

Vida de gente é vida sofrida
Chorar os dias perdidos
Rir dos erros cometidos
A mercê da companheira bebida

Entreguei-me a vida
Casei-me com ela no dia em que me separei
Fui acusado de adultério
Desonesto!
Traidor, traiçoeiro, traça, traíra

Tragicômico!
Afinal, eu não traí ninguém...
Só estava casado errado
A vida é a minha verdadeira mulher
E esta eu nunca traí

Então eu digo
E de pronto, repito.
Tem que se aprender a viver a vida
Porque vida calada é vida morrida



2)

Writer of the sad bottle loser

And now I became a writer... a drop!
Falling down from the top
Of my lazy volition to live
And please do tell me why
And what I have to give
To have back all my light-spirited
Memories…
If I have to choose
Or if I have to lose
Drunk in the blues
I will be on the loose
Cause I can’t make choices
Nor even lose I can’t
Cause you are my muse
And will be until the end

Once said a friend
You can’t hold a girl
Cause what’s more to write
If not the sadness of a broken heart?
Nobody wants to know
If you don’t have to show
All the despair of a great bellow!
Makes them blessed
Knowing you are worse then
That they’ve passed
Their miser messy life!


So that’s my fate
Concealing my grief
In the bars cave
Drowning my sorrow
In the bottle
And drinking them!
To keep the sadness
On the straight and narrow...


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Poesias antigas, penso que de 2007.
Essa foi a primeira e única poesia em inglês até agora.
É difícil pacas escrever bem em inglês.
A primeira, gosto de pensar no pré-título de despedida de solteiro.
E a segunda, bem, é a cara do baralho boêmio.

Estou pescando dos arquivos antigos, poesias também antigas...
Vamos ver o que mais acho por qui...


R.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quindim

15 pra uma da madrugada.
O pão de queijo daqui é muito bom...
Vim comer no posto e aproveitei pra abastecer. O carro rodou a semana inteira procurando algo desconhecido, então, precisei encher o tanque pra amanhã.
Apesar de ser tarde e o domingo ser chuvoso, tem muitas pessoas aqui. Um cara engraçado, com uma gravata preta pra dentro da camisa de malha comum, conversa com uma mulher roliça e atarracada, me olham com curiosidade.
O astral está bom, a moça do balcão é muito simpática. Ela me ofereceu a promoção do pão de queijo e todyynho, mas eu já estava tomando meu suco.
Na verdade eu vim aqui porque estou sem sono. Não consegui dormir desde que comecei a procurar um apê pra mim na zona sul do rio. Sempre fui muito precoce, e agora talvez eu vá morar sozinha e mal completei duas décadas, mas isso é uma longa história, deixa pra depois.
Eu queria mesmo era falar do quindim. Sim, tudo isso pra falar do quindim, dei várias voltas pra falar do quindim, eu sei que você adora.
Já reparou como no fim todas as coisas levam à você?
Eu já estava me conformando com a sua ausência desses dois dias, mas aí eu achei a colherzinha de plástico verde que você esqueceu aqui no meu carro, quando tomou aquele sorvete de menta também verde.
Foi naquele mesmo dia, naquela quarta-feira chuvosa, quando almoçamos na confeitaria colombo. Lembra disso? A primeira vez que comemos juntos, e você pediu um quindim, eu comi um pedacinho humilde, estava satisfeita. Na verdade quase não comi nada aquele dia, me alimentei de te olhar, da tua companhia, da tua voz...
E você comeria mais uns três, e eu continuaria a te olhar, divertidamente.
Enfim, eu comprei um quindim no posto, mas o levei pra casa. Sentei no meu quarto e coloquei pra tocar Vinícius e Toquinho.
Samba me lembra você, vai lembrar sempre, depois que cantamos animados no meu carro junto com o Martinho da Vila rolando alto.
Depois de muito enrolar, ainda falta uma mordida pra acabar o doce. O que eu faço agora?

… dou a última mordida...e...


… engraçado, ela me lembrou seu beijo.


R.

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Pensei em escrever mais para aumentar o conto... mas achei que ele já
dizia tudo, na sua simplicidade.

Escrito em novembro de 2009, pra você.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O soneto torto de Itabira

Deixe a montanha aí rapaz
que o galo canta
o sol se encanta
e meus olhos choram de tanta poesia

Deixe a montanha aí rapaz
que elas me abraçam
e formam um arco
que como um laço protege a cidade de Itabira

Na casa de Drummond
o cheiro de prosa
o jardim de Marílis
e a passagem secreta do sótão
a antiga sala de jantar
a antiga correria...

Um sorriso por esse cheiro de mato
uma lágrima pela locomotiva a jato
que num minuto leva Itabira nas costas
suas montanhas, mas também seu coração

Por isso fugiu o poeta
pois lhe roubaram a sua canção
a gentalha do ferro faz maquinas
que não possuem o dom da criação

Na rua de pedras
envolvem-me os casarões
ouço o sino Elias
Anunciando as mais belas procissões

Silêncio...

As nuvens correm agora
como correu o poeta

Deixe a montanha aí rapaz
que o que se leva de Itabira
é só o amor
o cheiro de mato

É tudo de graça
como tu já levaste a esperança
daqui só se leva poesia
que de tudo, é a mais bela lembrança.




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Poesia para a lindíssima cidade de Itabira, fevereiro de 2010.
Sentados sob ferro, manta de cor vermelha, o sangue derramado da natureza em pedaços. O homem se ilude ao pensar que pode destruir algo que ele não criou e ficar por isso mesmo.
E assistindo ao belíssimo nascer do sol, me disse " Isso acontece todo dia... e ninguém se dá conta... e é de graça."


R.