segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um poema e dois pensamentos

Para Adélia


Desde aquele dia não escrevo
Ele roubou-me a inspiração, e tudo quanto havia
Adélia me devolveu algumas palavras
Tentaram elas me livrar do tédio, agonia

Se ao menos servisse para alguma coisa
Pra trazer você pra perto de mim
Minhas palavras não têm asas
Não têm vassoura de bruxa atravessando a lua cheia sem fim

Desfaço-me das rimas
Como desfaço-me das roupas
Que não são de veludo, nem de cetim

E despida de tudo o que era antes
Deito-me (só) como mulher
Que a poetisa me ensinou a ser, enfim.


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Um


“Antes, os ouvidos me ouviam assim:
Dá-me licença, eu quero passar
E passava (sempre) com o nariz empinado
Sem tocar em nada, pegadas na neve

Agora, os ouvidos me ouvem assim:
Dá-me licença, eu quero amar
E amo (sempre) olhando pra baixo
Sem tocar no chão, pegadas no céu.”


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Dois


“Você não sabe escrever, ser poeta.
As palavras engasgam, porque os sentimentos não estão acostumados a sair.
E sentimento, meu amigo, é encalço da palavra.
Melhor assim, que só eu consigo ler as tuas poesias, que saltam dos olhos quando você fica mudo.
A tua poesia é linda, e é minha, já que só eu consigo decifrá-la.
Não se preocupe. Deixe que eu cuide dela pra você.”


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"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."

Adélia Prado