sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre a espera ( em construção )

E sentada, entre as quatro paredes sem luz, esperou, e isso é tudo. E nada mais à narrar se não isto, a espera. Não soube por quanto tempo, nem quando decidiu por ali ficar. Talvez o orgulho a tenha impedido de falar e a melancolia de levantar-se e ir. Não ia há tempos, de verdade. Quando ia, ia pela metade, a outra arrasada, ainda esperando. E sorria quando ia, pela metade da boca, o resto dos dentes podres. E quando alguma lágrima caía, fingia espirrar ou corria ao banheiro, demorava-se. A metade já não era dela há tempos, descobriu. E não adiantava então tentar ir, sem ir de verdade, porque doía, e era dolorido esconder-se. Então resolveu esperar, e isso é tudo e tudo termina por aqui. E queria aprender a escrever sem vírgulas e ponto final, pegou no papel, no piano, mas em nada tocara porque sentada ali ficou, esperando, olhando de olhos fechados pra parede ou teto do escuro quarto. Wagner, dos dois falava em seus ouvidos e tentavam fazer com que a espera doesse mais, mas passasse mais rápido. Escoava como água a vigília por um sono forçado. E parava ali, hora deitada, hora sentada, entre pausas e convulsões, e infinitudes. Doída sem a outra parte que jazia longe talvez morta por não saber existir ali dentro a outra parte. Perdeu-se a conexão, o coração desfalecia no silêncio pelos olhos caídos que esperavam uma pulsação ou sinal de vida. Por fim cansada, nada ouviu do silêncio, nenhuma resposta. Decidiu então, ou já estava e não sabia, esperar. Não sabido era se um dia voltaria, quando, se resgataria a parte que não sabia ela como veio a descolar-se, terrivelmente descolar-se sem que lhe fosse avisado ou pedido, só descobrira assim, quando havia de esperar para que voltasse. E esperava, ali, sem nada a declarar, esperava então, somente.



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A espera de término, para sempre. (?)

6 comentários:

Daniela Filipini disse...

Gosto dos detalhes.
Esperar às vezes é a única opção que o coração suporta escolher.

Anônimo disse...

Esperar é sempre tão ruim, tão cansativo ...

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
vanessa carvalho disse...

Nessa vida o melhor mesmo é esperar, mas sem desistir, só que sem apressar para não encontrar pelo caminho o errado.

Rívia Petermann disse...

"Não ia há tempos, de verdade. Quando ia, ia pela metade"...

Esperar,ir.Pode ser uma escolha difícil,há pungência,e é preciso ignorar essa pungência.Ruim é não saber como fazer.

Anônimo disse...

Muito bom seu blog. Foi bom passar por aqui. Beijos!