segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sonhar

Esses últimos dias me fizerem refletir muito sobre a importância do sonho.
No mundo em que vivemos, a cada dia que passa fica mais dificil de acreditar num futuro
bonito, na bondade das pessoas, na paz e no amor.
Mas eu aprendi também que mesmo com tudo de podre que vemos hoje, um homem sem sonho e sem fé está no mesmo barco daqueles homens que empodrecem o mundo.
Um homem sem fé, é um homem sem vida!

R.
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Música: Sonho impossível
De Chico Buarque de Olanda/Maria Bethânia.



Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Coma

Quero clamar a minha loucura!
Afogá-la no fundo de minha garrafa
Para que caso a sanidade me ataque
Eu possa bebê-la outra vez!

Não farei como D.Sebastião
Vou gritar até o surdo dizer basta!
Os cristais se quebrarem
E os pássaros desistirem de cantar

Quero clamar a minha verdade!
Santificar a insanidade
Desses dias loucos na mesa sem bar

Não farei como D.Maria 1ª
Quero contrabandear idéias
Viver na dependência de sentir
Porque quem não sente é pedra!

Quero saciar a minha sede
Engolir um oceano de pensamentos
Entrar num coma de devaneios
De sentimentos...

Que as espumas flutuem!
E os anjos tortos da sombra venham me procurar
Que a negra Fulô tenha sonhos
Porque no meu mundo, vai cantar o sabiá!

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Parede

Parede, parede..
Entre quatro paredes
O toque dos dedos
A pele de cetim
Ao tremer dos corpos
Os cantos somem
E paredes viram
Um circulo sem fim

Parede, parede, parede...
Lugar que da sede
De amor, calor
Onde a sublimação ocorre
O ódio morre
E toda briga termina
Com um final feliz

Parede...parede...
Onde a fala se perde no ar
E tudo é cheiro
Sabor
Textura

Paredes...
Lugar de começo
Meio e fim
E que fim é este...
Quando a formosura preenche
Todos cantos vazios

Parede
De suor
De frenesi de felicidade
Lugar pra matar a saudade
De criar vida
De começar a arte!

Ah...paredes!
Entre quatro paredes
Há tanta perfeição
Em que o homem se põe
E tanta ternura
Entrelaçada na fronha
Que anjos, arcanjos
E até os Deuses
Sentem vergonha

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Lição de amor

No livro de paginas amareladas
O cheiro de antigo amor que me há de lembrar
Do som que o disco soou
Arranhado como a mais bela lembrança

E sentado naquele café
Esperando minha hora chegar
Os pensamentos sem conseguir fluir
Só sonhavam com você a passar

Estranho que eu venha a querer
Sua pele que nunca toquei
Triste não saberes existir
Todo o amor que sempre lhe dei

E tu que não sabes de mim?
Nem pensas no meu sonhar sobre nós
Falas a mim chorando tua loucura
E ata ainda mais forte nossos nós

Dos poemas que escrevo para ti
Tu amas e vem me falar
É ironia que me faz rir
São teus elogios que me fazem chorar

E tu que não sabes de mim?
Sou só um com quem trocas meias palavras
E quando vais embora
Sorriem em mim as palavras trocadas

Um dia chegastes a mim
Quando brigaste com teu amor
Disse-lhe as mais belas palavras
Sobre o amor que suporta toda dor
(Ironia...)

Mas não penses que choro pelos cantos
Sou feliz em meu estado calado
Uma vez o amor me ensinou
Que se verdadeiro um bocado

Só quer que seu bem
Acima de tudo
Seja de todos
O mais amado...



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Escrito hoje em um guardanapo do café Baronni, livraria Saraiva.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sai de mim

Quando a alma levita
As assas ressoam um som desigual
Os olhos encharcam o sorriso tremido
E aquilo se torna imortal

Quando o pensamento voa
A visão entorpece num pico sem fim
A dor do vazio encanta
Quando a alma sai de mim

Quando a emoção se torna a única razão
E não há o que possa parar
Não há quem ponha meus pés no chão
Quando a alma começa a flutuar

Quando as mãos tentam pegar
Os joelhos tremem até cair
Se o corpo não puder mais suportar
A alma sai de mim

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Escrito depois da estréia da minha peça do ano passado, essa é a sensação de atuar.

sábado, 23 de agosto de 2008

Sinestesia de ti

Olhe!
Estás ouvindo?
É o teu cheiro que passa pela janela e invade a casa

Olhe!
Estás sentindo?
São teus passos apressados no assoalho!

Tens pressa de quê?
Ansias a que?
Algum novo amor remunerado que te suga a avareza?
Nada disso vale a pena
Não deste jeito enamorado...
Com o Diabo!

Sinta!
Consegues ver?
É o som do tempo dando Adeus
E levando a vida consigo

Tens pressa de quê?
Não tens medo de se perder
E nesse emaranhado de coisas
Afogar-te?

Toque...
Consegues ver?
É o som de bater de asas angelicais

Anjos que vieram levar-te
Sem pressa
Sem ânsia
Ao gosto da paz
Ao cheiro de rosas
A maciez do cetim
A luz do luar
Ao canto... dos pássaros !

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Essa foi escrita em meados de 2006, vencedora de um concurso de poesias em 2007.

sábado, 26 de julho de 2008

Medo da morte

(Um pensamento)

Não há o medo da morte.
E sim o medo de não viver.
A vida é incerteza de estar vivo, acabrunhamento de pensar e aderir à regressão. E ainda há, quando se está vivo, o medo da morte.
A morte, porém, é doce, inócua e em seu silêncio reside a paz. É um sonho profundo que não permite ao medo bater em sua porta, pois não há a insegurança de estar vivo.
A morte é descanso, ablução de uma vida abetumada, estrada esburacada que se aplicam a todos os seres pensantes, sem exceção.
Alguns aventureiros, ainda, abancam-se na conformação e tentam trazer o medo da vida e seu próprio proveito para junto à paz póstuma. Amando a solitude do amor e sendo amado pelas dores insofríveis.
São aqueles que encontram uma bifurcação e escolhem o caminho que engambela o punimento dos “pecados” que nos foi proporcionado.
Esses, de olhos comuns, mas de visão aberrada, engolfam-se na beleza das lágrimas e no proveito que elas trazem dentro de si. Talvez o conhecimento tenha nascido do sofrimento, e até são tão parecidos nesta forma verbal.
Pois, quando se há silêncio, ele permite o pensamento; quando se há o pesar, ele permite a reflexão; e quando não há amor e fortuna, este vazio permite então ser difundido por palavras.
Tais vazios eternos e únicos, só são preenchidos pela arte, pela música, pelos poemas e pensamentos, agravam eles, cada vez mais a dor desta falta, porem, tornam-nas camufladas por entre as notas e versos.
E assim talvez tais aventureiros enxerguem um caminho alternativo
Tal que não sucumba à vida ao medo do desconhecido
Pois este torna-se conhecido, vizinho, metade.
A vida é mais aflita, e não a morte.
A vida é vivida, e a morte, dormida.
A vida é finita, a morte, infinita.

sábado, 21 de junho de 2008

Palavras

Se eu posso me apropriar de algo na vida
Que sejam as palavras
Pois além de não me cobrarem nada por isso
É grande a recompensa à quem faz delas o bom uso

Se eu posso me apropriar de algo na vida
Que sejam as palavras
Palavras simples, mas que ao serem ditas, tocam dentro do peito
E aprofundam a alma
Palavras que foram concedidas não só à mim
Mas que à mim, foi dado o desejo de juntá-las
Em forma de versos e poesias

Se eu posso me apropriar de palavras na vida
Que sejam reflexões
E façam, nem que seja por um minuto
(como este agora)
Alguém se lembrar que o amor ainda existe
Pois ele pode despertar em meio das mais simples frases

Que das palavras floresçam a esperança!
E que de suas sementes brotem frutos
De uma arte tão simples e profunda
Que são as palavras

R.

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- As palavras são peças do meu quebra-cabeça favorito.
E sempre que termina-se de montá-lo, a figura formada
é um presente para muitos, e pra mim, uma grande surpresa.

domingo, 11 de maio de 2008

Exigências de um lar

Vou me mudar
Desses pilares de mármore...feitos de pó!
Onde há sorrisos fingidos que tentam me acolher
Robôs empestando a casa pra me servir
Tudo aquilo que eu nem preciso ter

Vou me mudar
Pra longe dessas cortinas de negro cetim
Onde o chão comprido e encerado
Mostra meu reflexo cansado
Dos olhos onde todo sonho tem seu fim

Vou me mudar...

Quero um lugar vazio!
Pra que eu possa fazer de meu lar um abrigo

Quero um lugar frio!
Para que possamos aquecer uns aos outros

Quero um lugar escuro!
Para que ao abrirmos os olhos
Iluminemos o caminho do próximo

Quero um lugar de silencio!
Para que possamos ouvi-lo...
E quebrá-lo de uma forma singela

Quero um lugar de tristeza!
Para que cada sorriso sorrido
Seja verdadeiro

Vou me mudar...

E quero um lugar de solidão.
Para que haja verdadeiro amor
E para que cada amor que exista
Seja eterno!

domingo, 4 de maio de 2008

Expresso dos sonhos

Sou firme e sou constante
Vindo de todos os lados
Pra sempre, sou mutante.

Aderindo a qualquer luz no fim do túnel
Já que sou perguntas sem respostas...

Sou firme e sou constante
Variável como o tempo
Sim, eu sou um amante!

Passageiro definitivo
Do expresso dos sonhos...

Criando raízes a cada lugar que vou,
Dizem que sou marcante
Meu nome, imaginação!
Um boêmio errante...pensante!

Procurando o que ainda nem sei
Estou na metade do infinito
E a cada novo passo
O que procuro torna-se mais conflito
E mais bonito...

Sou firme e sou constante
Variável como o tempo
Ah, eu sou um amante!

Nas horas perdidas e vindas
Tornei-me mutante
Passageiro definitivo
No expresso dos sonhos...

R.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Poética

Estou farto do lirismo comedido
do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
[ menifestação de apreço ao Sr. diretor


Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho
[vernaculo de um vocabulo


Abaixo os puristas


Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.


De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
[com cem modelos de cartas e as diferentes
[maneiras de agradar às mulheres, etc.


Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare


- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.


Manuel Bandeira



Para abrir com chave de ouro, um grande poema de um grande poeta!