segunda-feira, 4 de maio de 2015

Quioto

Danço só
A dança de mais ninguém
De mil pessoas que me encaram nas ruas
Com mil pés em diferentes passos
Dançam todos
Mas não dançam ninguém

Danço só
A dança de um só compasso
De mil sorrisos que me sorriem calados
Com mil mãos de diversos formatos
Quero a todas
Mas não me tocam ninguém

Recito só
O poema que me foi cantado
De mil línguas que me dizem sim
Com mil bocas de diferentes vontades
Como a todas
Mas não me beijam ninguém

Canto só
A música que não foi musicada
De mil notas que vêm me sambar
Com mil vozes de diversas verdades
Ouço a todas
Mas não me falam ninguém

Caminho só
Nos passos de mais ninguém
De mil caminhos já antes caminhados
Com mil histórias já antes contadas
Faço parte de todas
Mas não me conhecem ninguém

Durmo só 
O sono dos enamorados
De mil mundos ainda não explorados
Com mil sonhos antes nunca sonhados
Me encantam todos
Mas não se realizam ninguém

Acordo só
Na alvorada embaraçada
De mil dias ainda para serem completados
Com mil sóis esperando para se esconder
Se põe todos
Mas não me anoitecem ninguém

Danço só
A dança de mais ninguém
Na cidade de mil balés não terminados
Com mil vontades de olhos desesperados
Me querem todos
E eu os quero também








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